Recover e H&M firmam acordo plurianual para fornecimento de algodão reciclado: a moda circular como instrumento de governança ambiental

A indústria da moda vive um momento decisivo de reestruturação de suas cadeias de suprimentos, em resposta à crescente pressão por práticas sustentáveis e conformidade regulatória. Nesse cenário, o acordo plurianual entre a empresa espanhola Recover, referência global na reciclagem têxtil, e o grupo sueco H&M, um dos maiores varejistas de moda do mundo, marca um passo estratégico em direção à consolidação de um modelo de produção circular.

Imagem/reprodução: Google

O contrato prevê o fornecimento contínuo de RCotton, a fibra de algodão reciclado desenvolvida pela Recover, e simboliza uma colaboração de longo prazo voltada ao aprovisionamento sustentável de matérias-primas. A parceria não é inédita — ambas as empresas já haviam trabalhado juntas em coleções anteriores —, mas o novo acordo representa uma expansão em escala industrial, com base em objetivos jurídicos e ambientais claros: ampliar o acesso a materiais reciclados, reduzir o impacto de carbono e consolidar práticas de rastreabilidade.

Sob a ótica do Direito da Moda, esse tipo de parceria tem implicações contratuais e regulatórias profundas. O fornecimento de algodão reciclado envolve cláusulas de sustentabilidade, due diligence ambiental, compliance social e governança corporativa, que passam a integrar o núcleo jurídico das relações comerciais entre marcas e fornecedores. Trata-se de uma mudança estrutural, em que as empresas assumem obrigações contratuais de transparência, vinculadas a metas de circularidade e compromissos internacionais, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e os princípios do Green Deal Europeu.

Além disso, a adesão da Recover à T2T Alliance (Textile-to-Textile Alliance) — grupo que reúne especialistas em reciclagem têxtil como Circulose, Syre, Circ e Re&Up — fortalece o papel político e regulatório da reciclagem na moda. A aliança atua junto às instituições europeias para consolidar um marco legal para a economia circular têxtil, pressionando por incentivos fiscais, padrões de rastreabilidade e exigências de transparência sobre a origem dos materiais.

No contexto jurídico, a parceria entre Recover e H&M reforça o surgimento de um novo perfil contratual de fornecimento, no qual o valor econômico é inseparável do valor ambiental. O RCotton — produzido por meio de reciclagem mecânica e livre de processos químicos agressivos — representa não apenas uma inovação tecnológica, mas também uma expressão jurídica da responsabilidade ambiental corporativa, que se consolida como obrigação nas políticas de compliance.

Essas movimentações abrem espaço para debates essenciais dentro do Fashion Law: como os contratos de fornecimento podem garantir transparência e rastreabilidade? Quais mecanismos jurídicos asseguram que a sustentabilidade seja efetivamente cumprida e auditada? E até que ponto a responsabilidade solidária pode ser aplicada quando há falhas ambientais na cadeia produtiva?

O caso Recover x H&M exemplifica a transição da moda para um modelo de governança ambiental corporativa, em que marcas e fornecedores compartilham deveres e riscos. No centro desse movimento está a atuação do Direito da Moda como ferramenta de equilíbrio entre inovação, ética e regulação.

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