Energia limpa e responsabilidade compartilhada: como marcas de moda estão financiando a transição solar de fornecedores têxteis em Bangladesh
- JURÍDICO FASHION

- 16 de nov.
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A crescente pressão por práticas sustentáveis no setor da moda tem levado grandes marcas globais a repensarem a forma como se relacionam com seus fornecedores. Em Bangladesh — responsável por 85% das exportações do país através da indústria têxtil —, a escassez de terrenos disponíveis e a necessidade de descarbonização impulsionaram um movimento inovador: o uso dos telhados das fábricas para gerar energia solar.

Com o apoio de marcas como a Bestseller, a Greener Garments Initiative (GGI), em parceria com a empresa de energia SOLShare, vem instalando centrais solares em telhados industriais, beneficiando pequenas e médias fábricas que antes não possuíam recursos técnicos ou financeiros para investir em energia limpa. O modelo de operação envolve o cofinanciamento entre as marcas e as empresas de energia, que constroem, operam e gerenciam os sistemas, vendendo a energia gerada diretamente às fábricas e, eventualmente, à rede nacional.
Esse tipo de colaboração inaugura uma nova fase no Direito da Moda, em que o discurso de sustentabilidade se materializa em instrumentos contratuais, políticas de compliance e obrigações mútuas de responsabilidade ambiental. Mais do que um gesto reputacional, as marcas passam a atuar como coautoras jurídicas da sustentabilidade, assumindo riscos e compromissos financeiros junto aos seus parceiros produtivos.
A prática também traz implicações relevantes sob a ótica do direito internacional ambiental e comercial. O cofinanciamento da energia solar pode configurar uma forma de joint venture socioambiental, exigindo contratos bem estruturados para delimitar responsabilidades em caso de inadimplência, falhas operacionais ou descumprimento de metas climáticas. Além disso, reforça a importância da due diligence nas cadeias de suprimentos, um tema cada vez mais presente em legislações internacionais, como a Lei de Cadeias Sustentáveis da União Europeia (CSDDD).
Do ponto de vista econômico, a adesão de pequenas fábricas a esse modelo representa uma democratização do acesso à energia limpa, antes restrita a grandes grupos industriais. Para as marcas, o incentivo financeiro torna-se um investimento estratégico: ao reduzir as emissões de seus fornecedores, elas avançam no cumprimento de seus próprios compromissos climáticos corporativos, evitando riscos de greenwashing e fortalecendo suas políticas de ESG (Environmental, Social and Governance).
O caso de Bangladesh é um exemplo concreto de como o Direito da Moda pode atuar como instrumento de transformação — conectando inovação, regulação e justiça socioambiental. Ele demonstra que, no século XXI, as responsabilidades jurídicas da moda ultrapassam o design e a etiqueta: envolvem energia, meio ambiente e o futuro sustentável das relações produtivas.
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