Valentino Rockstud retorna em “O Diabo Veste Prada 2”: debates sobre nostalgia, branding e proteção de ícones na moda
- JURÍDICO FASHION

- há 8 horas
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O retorno do Valentino Rockstud em O Diabo Veste Prada 2 não é apenas um detalhe estético; é um movimento calculado que une cinema, marketing e estratégia jurídica. A aparição de Miranda Priestly caminhando com os saltos vermelhos cravejados de tachas é suficiente para reativar um imaginário afetivo e cultural que marcou a década de 2010, trazendo à superfície um objeto que moldou comportamentos de consumo e se tornou uma assinatura visual da maison. O revival, entretanto, não acontece isoladamente: ele ecoa tendências globais de nostalgia, mas também reforça uma construção de marca que aproveita a força narrativa do audiovisual para revalorizar um produto icônico.

Criado em 2010 por Maria Grazia Chiuri e Pierpaolo Piccioli, o Rockstud foi um fenômeno comercial e cultural. Ele unia a estrutura clássica do design romano à irreverência contemporânea das tachas, tornando-se rapidamente um símbolo de atitude. Durante anos, o modelo dominou tapetes vermelhos, editoriais e street style, até que, pela saturação natural do mercado, desapareceu discretamente. Sua reintrodução agora, no contexto cinematográfico e sob nova direção criativa de Alessandro Michele, funciona como comentário visual sobre a herança da marca, posicionando o sapato como um elo entre passado e futuro da Valentino. E no campo jurídico, esse retorno renova a força de proteção sobre seus elementos distintivos.
No teaser, Miranda Priestly não apenas usa um sapato: ela ativa uma memória coletiva. O vermelho vibrante, aliado ao design das tachas nas tiras geométricas, reforça o storytelling de uma personagem cuja presença se constrói também por meio de signos estéticos. A moda no cinema sempre desempenhou papel fundamental na criação de arquétipos, e aqui o figurino atua como narrativa silenciosa que reacende interesse comercial, impulsiona buscas online e reabre ciclos de consumo — dados que já aparecem nas primeiras horas após a divulgação do teaser. Para a maison, essa movimentação representa o momento ideal para reposicionar um de seus maiores sucessos.
No Direito da Moda, o Rockstud é um case valioso por envolver múltiplos instrumentos de proteção. Seu design, marcado pelas tachas piramidais aplicadas de maneira sistemática, permite argumentação sólida tanto em trade dress quanto em desenho industrial e até em marca tridimensional. Quando um ícone retorna ao mainstream, especialmente impulsionado pelo cinema, cresce também o risco de cópias, releituras não autorizadas e diluição visual. A Valentino, ao abraçar o revival, precisa intensificar o enforcement global, sobretudo em marketplaces e no segmento fast fashion, onde itens altamente identificáveis são frequentemente alvo de replicação. O Rockstud, ao voltar a ocupar o imaginário coletivo, volta também a demandar vigilância jurídica constante.
O impacto comercial também é significativo. Na primeira versão do filme, O Diabo Veste Prada transformou itens de moda em fenômenos culturais instantâneos — e o Rockstud, agora, assume esse lugar na continuação. A presença no cinema gera picos de procura, reacende debates estéticos e impulsiona vendas de novas coleções que reinterpretam o modelo. Esse efeito, conhecido no mercado como “product placement narrativo”, é especialmente forte em acessórios icônicos, pois eles não dependem de contexto social ou corporal para gerar desejo. Para a Valentino, a estratégia cria terreno fértil para relançamentos, edições especiais e campanhas virtuais direcionadas a uma nova geração que vivencia a década de 2010 como referência nostálgica.
Além disso, a escolha do item como marcador narrativo também dialoga com a fase atual da maison, que passa por reformulação criativa desde a chegada de Alessandro Michele. Resgatar o Rockstud funciona como gesto simbólico de continuidade: a marca reconhece seu passado, o recontextualiza e o oferece ao público em nova chave estética. Juridicamente, esse processo reforça a importância da coerência de identidade visual, pois marcas com códigos reconhecíveis ganham mais força em processos de proteção, argumentação e defesa contra cópias. Quanto mais um elemento é associado à marca no imaginário coletivo, maior seu potencial de distinção jurídica.
Em última análise, o retorno do Rockstud demonstra como a moda — e especialmente seus ícones — se beneficia de narrativas audiovisuais para consolidar valor de mercado, reforçar proteção legal e prolongar ciclos de consumo. Quando Miranda Priestly pisa com seus saltos escarlates, não é apenas uma personagem entrando em cena: é uma peça de propriedade intelectual sendo reativada diante de milhões de espectadores, criando impacto cultural, econômico e jurídico. E isso transforma o sapato em muito mais do que moda: transforma-o em ativo estratégico.
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